22 de novembro de 2011

A VERDADE QUE NOS LIBERTA!




Em nossa caminhada, que parece não ter fim, na nave azul chamada Terra, cheia de mistérios e surpresas, há verdades inegáveis, das quais não podemos e jamais devemos (deveremos) escapar enquanto tivermos na alma a marca redutível do pó. Verdades que se traduzem a partir do nosso nascimento; no instante crucial em que o ar invade, sem pedir licença, os nossos pulmões; e o primeiro choro, em forma de grito, nos garante a nossa chegada a esse mundo: nosso grande companheiro, nossa casa singular; nosso destino, em forma de gangorra, às vezes hostil, às vezes generoso.




Imagens, cores, formas, sons, gostos são tragados pelos nossos sentidos, simutaneamente, e uma cadeia infinita de pensamentos e emoções, milagrosa e inexplicavelmente, dão forma a tudo que é e que está ao nosso redor, e a todos aqueles que são os nossos cúmplices fiéis nesta trajetória fantástica, que é a Vida; almas gêmeas, que elegemos para serem a nossa segunda sombra ou a candeia que desabrava itinerários selvagens e desafiadores! Vida de sossego e desassossego; vida de amor e desamor; vida de crença e descrença; vida de vitória e derrota; vida de paz e guerra; vida de luz e trevas; vida, simplesmente vida. 



Somos elos esféricos, unos, que, pelo corte de sangue, que nos caracteriza como Humanos, na sinfonia da Criação, se bipartem, indelevelmente; rompem cadeias para formar outras cirandas, ou se quebram, tombando como estrelas órfãs no espaço infinito sem pai e sem mãe; num oco que abisma, muitas vezes, o nosso coração, a nossa mente e as nossas convicções nem sempre tão acertadas quanto aquelas que idealizamos no mover do nosso espírito, pois o sonho pode ser um, mas a realidade, com efeito, é outra. Desse modo, no universo interior, que todos nós portamos, há big bangs fantásticos, supernovas gigantescas, planetas esplendorosos, explosões contínuas de luz, galáxias ruidosas nascendo e outras tantas se expandindo, para além dos limites que supomos ter; e uma visão paradisíaca sobre nós mesmos, onde o espelho está sempre aclamando que, além de nossa imagem, não há nada mais belo nos contornos divinais de qualquer céu, terra, mar ou algo que se assemelhe ao vasto espaço que nos protege. Assim, não paira dúvida sobre a vastidão do Cosmo que nos abriga: somos únicos e singulares.




Esse é o enigmático traçado da vida, que se apresenta multifacetado e colorido, hologramaticamente perfeito, embora, ao longo de nossa existência, não percebamos a complexa e multiforme rede de sentidos que se forma diante de nosso olhar, que tende a escurecer, paulatinamente, quando descobrimos que somos escravos do Tempo, mas que traz na morte de seu brilho o princípio da verdadeira liberdade: a Sabedoria. Sabedoria que vem do Alto, sabedoria que está presente nas coisas mais simples da vida, sabedoria que age no silêncio, na dispensação aguda e exata de todas as palavras que saem de nossas bocas vis como lâminas cegas, que só aprenderam o atalho pela ferida que corta, que sangra e que nos faz sofrer. Sabedoria que cura sem que haja dor; algo que ainda não dominamos, algo que, lamentavelmente, ainda não conhecemos. A Sabedoria: a entidade mais antiga que povoou o mundo antes de todos os seres emergirem do Nada; da telúrica poeira derramada por astros anciães na Terra, e que um dia vagaram na vastidão do Universo.




Se aprendemos, em um concerto solo, que as coisas e as pessoas parecem rodar em nossa volta como se fôssemos o umbigo do mundo ou o centro de alguma galáxia gigantesca, surpreendentemente, para o nosso próprio bem, a caixa de Pandora se abre, orquestrando uma melodia dissonante e estranha ao pavilhão de nossos ouvidos, e eis que outras realidades se descortinam, de forma singular, e secam a nossa voz, emudecem o nosso espírito e embaçam a nossa visão, que, bêbeda, cambaleia na corda bamba, que se torna a nossa longa peregrinação pela busca incansável de um certo oriente; antes, um solo pacífico e sem abalos ou sulcos movediços na terra mais do que viva. 




A roda do carrossel gira ao sabor das horas infindas, e, no lugar dos leitos fluviais, vislumbramos fendas abertas e vertiginosas; gargantas profundas de um deserto, que desaparece em um um horizonte ígneo, mas que nunca perece diante de nossa percepção finita. Ilusões fantasmagóricas na travessia de um mundo, onde o sol cresta a nossa alma e enterra a nossa torpe consciência em oceanos mortos? O azul de um firmamento, que pensamos ter, um dia, contemplado serenamente, em verdade, é a densa noite que nos persegue como um saqueador; sem estrelas, sem luares e sem faróis! Os olhos, nossas candeias naturais, ao se renderem à escuridão de uma madrugada andrógina, descobre o verdadeiro espetáculo da vida: o exercício profícuo da solidão, que nos indica a única via para a ascensão: o auto-conhecimento. 




Homens não nascem sábios nem tampouco mulheres. Homens e mulheres nascem infantes. E na inconsciência de um estado pueril,  a eterna criança que existe dentro de cada um de nós, e que vem de paragens longínquas sobre as quais jamais alguém soubera a origem, a sabedoria embala o nosso ser, iludindo a morte o tempo todo, nos livrando das quedas fatais, por força da gravidade que nos atrai para baixo, para que os seres humanos, não mais de tenra idade, mas gozando da maturidade e da velhice, possam atingir o estado pleno da felicidade. A sabedoria promove a felicidade porque um dia devemos, todos, sem exceção, praticar a escuta do nosso silêncio. Ouvir a canção espiritual que nasce do nosso eco: repetitivo, constante e memorialístico.





Na memória, na recordação, lembramos dos seres infantes, que um dia fomos, e das crianças, que jamais deixaremos de ser, para, enfim, podermos aprender a verdade que nos liberta de nossos grilhões, que foram atados em nossos membros em um tempo que fora apagado cruelmente de nossas estórias de vida. A lição que devemos aprender, e, portanto, jamais esquecer, é aquela que nos ensina que, na convivência com o próximo, saibamos, sem quaisquer amarras ou preconceitos, a compreender a sua natureza, a sua vontade, e, principalmente, os seus sonhos. Se não respeitarmos o desejo lúdico do Outro, como poderemos desejar que alguém respeite a nossa visão de mundo?




Conhecer-se a si mesmo é ouvir a voz interior. Quando aprendemos a escutar a nossa voz, nem sempre agradável e límpida, somos hábeis para ouvir a música que é entoada em lábios alheios. Ao nos conhecermos, temos a oportunidade exemplar de praticar o auto-perdão e sermos livres de nosso juiz maior: a nossa consciência rígida, determinada por leis inflexíveis, insensata e, portanto, inimiga número um do eloqënte ato de amar. O auto-conhecimento, que se dá pelo silêncio, nos liberta dos precipícios, nos possibilita o voo, alonga a nossa visão e nos eleva para campos menos densos e mais leves como a plumagem compacta e eficiente das asas, que somente os pássaros de luz têm.




O próximo, que paradoxalmente chamamos de Outro, e a quem conferimos o eterno e desnecessário estigma de anônimo, nada mais é do que nossa face, às avessas, que, através da visão débil de que dispomos, um dia, julgamos ser a mais bela no mundo dos mortais e no reino dos imortais entre a terra, que mal conhecemos, e o céu, que jamais saberemos como é em sua essência redentora.




Em um tempo distante, mas não esquecido por nós, um certo filósofo cunhara uma célebre frase: Conhece-te a ti mesmo - γνῶθι σεαυτόν. Em outro tempo, também distante de nossa época, mas próximo da nossa caminhada como passageiros efêmeros da Vida, um certo envangelista proclamou a seguinte sentença: E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.



Sócrates, o filósofo, e João, o apóstolo, personagens distintas de épocas singulares, figuras centrais em episódios da épica humana e de valores imensuráveis, legaram para outras humanidades o fio de ouro de uma estória que devemos dar prosseguimento para garantir a boa fortuna às gerações vindouras.






A verdade que nos liberta não está fora de nossos corpos, e as pesadas algemas não imobilizam nossas mãos ou pés! A verdade que nos dá a liberdade com a qual tanto sonhamos, almejamos, está guardada em nossos corações, onde o AMOR é a chave que abre todas as celas que nos trancafiaram em nossa mesquinhez; algo que nos distancia dos céus e nos expulsa da terra.




O dia em que não precisarmos mais dos espelhos para ver a nossa imagem borrada na superfície vítrea, ilusória e traiçoeira, certamente estaremos todos livres e saberemos viver conosco e com os outros. Enquanto isso não acontecer, os elos existirão e a verdade resitirá ao tempo para continuar a ser pregada. 


Os espelhos? Estes ainda existem!

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